MONITORAMENTO DA QUALIDADE DE FIBRA E FIO DO ALGODÃO AGROECOLÓGICO NO SEMIÁRIDO

Publicado em: CONGRESSO BRASILEIRO DO ALGODÃO, 7., 2009, Foz do Iguaçu. Sustentabilidade da cotonicultura Brasileira e Expansão dos Mercados: Anais... Campina grande: Embrapa Algodão, 2009. p. 2205-2210.

MONITORAMENTO DA QUALIDADE DE FIBRA E FIO DO ALGODÃO AGROECOLÓGICO NO SEMIÁRIDO


Rodolfo Assis de Oliveira (UFPB, rodolfooliveira2000@yahoo.com.br)
Melchior Naelson Batista da Silva (Embrapa Algodão – Orientador)
Maurício José Rivero Wanderley (EMBRAPA)
Hesteólivia Shyrlley Ferreira Vasconcelos Ramos (Diaconia)
Roberto Sousa Nascimento (UFPB, roberto.uni@gmail.com)


RESUMO - O algodão agroecológico produzido no Semiárido é cultivado em sistemas consorciados com culturas alimentares e forrageiras, em pequenas propriedades rurais, empregando-se mão-de-obra familiar e colheita manual. O objetivo deste trabalho foi monitorar as características tecnológicas das fibras e fio do algodão agroecológico, produzidas por agricultores familiares, no ano agrícola de 2008. Foram colhidos 20 capulhos no terço médio das plantas nos roçados dos agricultores das regiões de Triunfo-PE, Pajeú-PE, Oeste Potiguar-RN e Curimataú-PB e feito análises de HVI (High Volume Instruments) no Laboratório de Fibras e Fios da Embrapa Algodão. Os resultados de percentagem de fibras do algodão e da maioria das características de fibra e fio foram superiores no algodoeiro cultivado no Curimataú-PB. No entanto, em todas as regiões estudadas, o algodão produzido atende as exigências da indústria têxtil nacional e internacional.

Palavras-chave: Fibras, Algodão Orgânico, Semiárido


 INTRODUÇÃO
O algodão agroecológico produzido no Semiárido é cultivado em sistemas consorciados com culturas alimentares e forrageiras, em pequenas propriedades rurais, empregando-se mão-de-obra familiar e colheita manual. O produto é comercializado no mercado orgânico e agroecológico desde a safra 1993/94, quando o país figurou nas estatísticas de países produtores de algodão orgânico (LIMA, 1995).

A cotonicultura orgânica é uma importante alternativa para incrementar a renda de agricultores familiares. Várias regiões do Nordeste brasileiro vêm apostando na cultura, que em 2008, atingiu uma produção de 85 toneladas, de algodão em rama, envolvendo mais de 500 famílias incentivadas pelos preços pagos pela pluma, pelas novas práticas de manejo sustentável desses cultivos e pelo comercio justo (LIMA, 2008).

Alguns trabalhos de pesquisa relatam a pouca influência do manejo orgânico sobre as qualidades da fibra e fio (SILVA., 2003; SILVA et al., 2005). No entanto, inexistem dados sobre a influência do manejo agroecológico e tipo de colheita realizada sobre essas características em áreas de produção.

O objetivo deste trabalho foi monitorar as características tecnológicas das fibras e fio do algodão agroecológico CNPA 7MH e CNPA 8H, produzido por agricultores familiares das regiões de Triunfo (PE), Pajeú (PE), Oeste Potiguar (RN) e Curimataú (PB), respectivamente no ano agrícola de 2008.
MATERIAL E MÉTODOS

Foram coletadas amostras-padrões de algodão herbáceo proveniente de áreas cultivadas de agricultores familiares de 04 regiões produtores de algodão agroecológico. Todas as áreas são manejadas de forma agroecológica e obedecem as regras de certificação do Instituto Biodinâmico (IBD), certificadora atualmente responsável pelo selo orgânico da produção do algodão.

Foram colhidos 20 capulhos no terço médio das plantas de algodoeiro dos roçados desses agricultores e feito as análises de HVI (High Volume Instruments) no Laboratório de Fibras e Fios da Embrapa Algodão, Campina Grande-PB, seguindo recomendação de Santana et al. (2008).

Para análise dos resultados foi usado o delineamento experimental em blocos casualizados (DBC), com 4 tratamentos (regiões) e 9 blocos (áreas de agricultores).

As variáveis analisadas foram: percentual em pluma (%Fibras), comprimento em (UHM), uniformidade em % (UNF), resistência em g/tex (SFI), índice de fibras curtas (STR), alongamento à ruptura (ELG), índice micronaire (MIC), refletância (Rd) e grau de amarelo (+b).

Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (SANTOS et al., 2008).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observa-se na Tabela 1 diferenças significativas entre as regiões do Pajeú, Curimataú, Oeste Potiguar e Triunfo quando analisados a percentagem de fibra, uniformidade, comprimento e índices de fibras curtas, alongamento, maturidade e grau de amarelo. Essas diferenças podem ser reflexos do manejo adotado no sistema de cultivo e na colheita de cada região. No entanto, parece ser o fator genético que mais influenciou as características tecnológicas da fibra e do fio, uma vez que a variedade usada no Curimataú é a CNPA 8H. Segundo Luz et al. (2007), fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (manejo) colaboram para a qualidade de fibra do algodão.




Tabela 1. Resumo das análises de variância das variáveis da qualidade física de fibra e do fio do algodoeiro, cv CNPA 7MH e CNPA 8H, das regiões de Triunfo (PE), Pajeú (PE), Oeste Potiguar (RN) e Curimataú (PB), cultivado sob manejo agroecológico, Campina Grande, 2008.



Observando a Tabela 2, verificam-se diferenças entre as médias das regiões de Triunfo (PE), Pajeú (PE) e Oeste Potiguar (RN) que cultivaram a cv CNPA 7MH e a região do Curimataú, que cultivou a variedade CNPA 8H. Os valores de comprimento estiveram acima de 30 mm e o índice de fibras curtas abaixo de 5,7%, característica muito particulares de cultivares derivadas do algodoeiro mocó (Gossypium hirsutum L. raça marie galante) como o CNPA 7MH. Valores inferiores foram encontrados por Beltrão et al. (2000) quando estudou as características intrínsecas da fibra desta cultivar para as variáveis porcentagem de fibra (31,5%), comprimento (28,8mm), uniformidade (49,7%), resistência (26,6%) e alongamento (6,7milimex).




Tabela 2. Médias dos tratamentos das características tecnológicas da fibra e do fio do algodão, cv CNPA 7MH e CNPA 8H, dos territórios de Triunfo (PE), Pajeú (PE), Oeste Potiguar (RN) e Curimataú (PB), cultivado sob manejo agroecológico, Embrapa Algodão, Campina Grande, 2008.


Destaca-se no estudo, a maior porcentagem de fibra no Curimataú (PB) (Figura 1), onde se cultivou a variedade CNPA 8H. Para todas as regiões, as características tecnológicas de fibra apresentaram resultados de acordo com os padrões estabelecidos pela indústria têxtil, e de acordo com os dados de Fonseca e Santana (2002). Provavelmente, a qualidade do algodão do Semi-árido se deva a colheita manual, que apesar de morosa, permite a obtenção de fibras de melhor qualidade pela possibilidade de selecionar e classificar a produção segundo critérios de qualidade como maturidade, incidência de doenças, pragas e presença de plantas invasoras.


CONCLUSÃO

A porcentagem de pluma foi significantemente maior no Curimataú – PB (41,30%), cv CNPA 8H, o que proporciona aos agricultores um incremento na renda, pois, o algodão orgânico é comercializado em forma de pluma.

As fibras das cultivares CNPA 7MH e 8H atendem as exigências da indústria têxtil nacional e internacional estando entre as melhores fibras que o mundo atualmente produz.

CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO

O monitoramento dos parâmetros físicos de qualidade de fibras e fios do algodão dá aos agricultores e a indústria a segurança para a qualidade na produção.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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LIMA, P. J. B. F. Algodão agroecológico no comércio justo: fazendo a diferença. Revista Agriculturas: experiência em agroecologia, v. 5, n. 2, p. 37-41, Jun. 2008.

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SANTANA, J. C. F. de; WANDERLEY, M. J. R.; BELTRÃO, N. E. de M.; AZEVEDO, D. M. P. de; LEÃO, A. B.; VIEIRA, D. J. Características da fibra e do fio do algodão : análise e interpretação dos resultados. In: BELTRÃO, N. E. de M.;

AZEVEDO, D. M. P. de. (Ed.). O Agronegócio do Algodão no Brasil. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Campina Grande: Embrapa Algodão, 2008. v. 2, p. 1101-1120.

SANTOS, J. W. ; ALMEIDA, F. de A. C.; BELTRÃO, N. E. de M. ; CAVALCANTE, F. B. . Estatística Experimental Aplicada. 2. ed. , 2008. v. 1. 461 p.

SILVA, M. N. B. da; BELTRÃO, N. E. de M.; CARDOSO, G. D. Adubação do algodão colorido BRS 200 em sistema orgânico no Seridó paraibano. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 9, n. 2, p. 222-228, 2005.

SILVA, M. N. B. da. Manejo cultural do algodoeiro colorido BRS 200 em cultivo orgânico no semi-árido paraibano. 2003. 114 f. Tese (Doutorado em Programa de Pós Graduação Em Agronomia).- Universidade Federal da Paraíba, Areia.



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